data-filename="retriever" style="width: 100%;">Tenho agora em minhas mãos um dos livros do José Eduardo Agualusa, Os vivos e os outros. Ele angolano, de ascendência portuguesa e brasileira, nove anos e meio mais moço do que eu. Nunca estivemos juntos, mas o tenho como amigo. Por conta de os livros serem pessoas aconchegadas àquelas que os escreveram, ele está ao meu lado agora, ao meu lado e dos vivos e dos outros!
Nossa proximidade é evidente por conta do quanto ele escreve no O Globo e da resposta que deu a um jornalista que lhe perguntou quem era ele: "Quem eu sou não ocupa muitas palavras: angolano em viagem, quase sem raça. Gosto do mar, de um céu em fogo ao fim da tarde. Nasci nas terras altas. Quero morrer em Benguela, como alternativa pode ser Olinda, no Nordeste do Brasil". Livros e mais livros publicados desde o final dos anos oitenta. Romances, contos, livros infantis, crônicas e poesia. Alguns deles cá comigo, além da lembrança de peças teatrais encantadoras, entre as quais Aquela Mulher, monólogo que Marília Gabriela expressou em 2008, em São Paulo, sob a direção de Antônio Fagundes.
O mais fascinante, no entanto, agora - este livro nas minhas mãos -, é o fato de os vivos e os outros estarem ao nosso lado aqui. Livro que me faz ir de volta ao passado e ao futuro a um Tempo só. Tempo com maiúscula, não simplesmente "tempo", que assim como o espaço não existe. Por isso mesmo, o futuro e o passado estão conosco - Agualusa e eu - hoje, aqui, agora! Eu não ousaria tentar sintetiza-lo no espaço que uso aqui, quinzenalmente, eis que os momentos vividos por Moira e Daniel nas suas duzentas páginas não cabem aqui.
Sete dias, uma violentíssima tempestade isolando-os do mundo, ao lado dos habitantes da Ilha de Moçambique, onde estão em um festival literário com trinta escritores africanos. O que ali acontece rompe fronteiras não somente do Tempo, mas também da realidade e ficção e da vida e da morte. Festival que enseja encontros maravilhosos entre personagens deste ou daquele livro e, mais, com os que realmente lá estão. Personagens, acreditem ou não, que assumem vida e caminham aqui e ali, pelas ruas da cidade que lá está.
Indago a mim mesmo qual é a natureza da Vida e do Tempo e é como se ele, sorrindo, me dissesse que as palavras constroem uma e outro. É como se meu amigo - amizade construída a partir do quanto ele escreve - relembrasse que o Tempo não apita na curva, não espera ninguém. E, mais, que a Vida não apenas pode ser, a vida é maravilhosa.
José Eduardo Agualusa é formidável, levando-me ao encontro - repito, perdoem-me - dos vivos e dos outros! Eu adoraria enviar-lhe este meu artiguinho, com a esperança de que ele mentisse que gostou e dissesse, de verdade, que é meu amigo. De verdade é, ou será, mas só o Tempo dirá!
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